Os latinos à prior, são mais efusivos, participativos, expansivos,
audazes aventureiros, reactivos “com sangue na guelra”, desalmadamente
amorosos e entre outras mais coisas, com uma predisposição bestial
para a boa loucura.
E orgulhamo-nos de ser latinos e sobretudo portugueses – mesmo bons patriotas.
Até podemos admirar também a maneira de ser, de estar e sobremaneira
de fazer e das particularidades que têm os nórdicos e outros parceiros
europeus, com melhor nível de vida do que nós; mas bem vistas as
coisas, nós... é que também não queremos ser e fazer como eles. Eles
talvez não se divirtam como nós e nós também não queremos deixar de
nos divertir tanto... à boa maneira latina. Claro que julgamos isso
d’aqui, a esta distância e analisado a quente, como também é nossa
característica estruturante. Mas, uma coisa é certa, o grosso dos
nossos emigrantes, por lá não fazem as coisas como cá – trabalham
mais, mas sobretudo melhor; muito mais organizados mas também sem
tanto rega-bofe. Realmente, este nosso cantinho é único e especial,
apesar de todos os contra-tempos, maiores defeitos e de algumas
possíveis características que não abonam muito a nosso favor,
mas...somos como somos – latinos de gema e portugueses de coração.
Mas, onde se encontram e vivem sobremaneira estas nossas particulares
características, é ao nível da aldeia, dos bairros mais antigos e
zonas históricas – mas, nem todas.
Quem cresceu e viveu num meio destes, desenvolveu tamanha série de
vivências, afectos, afinidades... que faz de nós, aldeões de estirpe
ou habitantes mais bairristas dos núcleos urbanos mais antigos e
tradicionais; os verdadeiros latinos de raça – no carácter e no
tamanho superior com que se medem e se metem nas coisas da vida.
Sobretudo, nas coisas boas da vida. Tudo na maior, todos sadiamente
mais loucos.
E não venham criticar estas coisas, supostamente mais pacóvias; porque
elas são aquilo que mais genuinamente, todos nós também quereríamos
ser; nem que fosse só por uma férias. E depois, outras e talvez mais
outras; até lhe tomarmos o gosto de vez. Pois... talvez, como bons
latinos mesmo! De facto, só sendo e pertencendo; estando lá e vivendo;
fazendo e sentindo; participando e reconhecendo em nós, um elo
demasiado forte e fundamental de toda aquela nossa família que abraça
toda a aldeia ou todo o bairro e que abarca toda a sua população.
Para quem nunca foi destes, não pode reconhecer todos os seus sabores
mais fortes e os seus argumentos mais fortemente latinizados – no bom
sentido. E muito menos, não pode reconhecer a identidade de quem ainda
tem espaço próprio, datas particularmente festivas e todos os mais
humildes desenlaces que fazem dos sítios mais pequenos, grandes no
que propiciam e dão – imperdível.
A minha aldeia é dessas e eu muito orgulhosamente sou dos seus.
Autor - José Porvinho/2008