EX-BOAZONAS
“A mulher bonita a mim não me convém”; diz com toda a ironia académica, uma das canções mais famosas do nosso universo estudantil.
À dias ouvi de uma jovem da minha idade o seguinte; “que o problema não foi fazer os 40 anos; foi sentir na pele, que agora os homens já não reparam no seu andar/passar. Mais depressa reparam nos carros que vão a circular que nela”.
Concerteza que exagerava e muito; mas lá que as coisas já não se pareciam nada, com o que sempre aconteceu, também é verdade.
Ela, no alto dos seus quase metro e oitenta, ainda é uma mulher de encher o olho; mas de facto, já não faz parar o trânsito, como o fazia no outro milénio – à meia dúzia de anos, não é verdade!
Aquela minha ex-colega, já na adolescência chamava mais a atenção do que alguns dos melhores carros da época. E claro, transformou-se num mulherão daqueles.
Tentámos animá-la, mudar de conversa; mas nada. Ela tinha imbicado na barreira dos 40 anos e pronto. Ninguém a conseguia demover das suas explicações mais caricatas.
- Hoje, quando vou a alguma pequena festa, reparam mais rapidamente no reposteiro do que em mim. Se não falar alto, já nem dão pela minha presença. Eu, até pensava que os 40 anos, não tinham nada de diferente para nós, o que até é mais ou menos certo; agora passam a representar é para quase todos os outros. E isso, é que é mais difícil de engolir. E é que não passa, nem há nenhum retorno possível.
E continuava nas suas lamúrias, mais figurativas do que verdadeiramente reais, o que foi o suficiente para animar e consequentemente, prolongar toda a conversa. Pois, bem vistas as coisas, todos já “sofríamos” do mesmo problema, só com sintomas mais ou menos visíveis e/ou mais ou menos sentidos.
Por “atalho de foice”, recordei-me de uma pequena historieta que se conta. Estava um empresário já de uma certa idade (que maneira simpática de acrescentarmos anos a uma pessoa) no hospital, quando uma enfermeira de meia idade se quis meter com ele:
- Então Sr. C, o seu produto já não é nada do que era.
- Também a menina não... também a menina não!
Respondeu ele de imediato, com a sua frontal naturalidade e... sinceridade. Segundo se consta, a enfermeira é que não gostou nada do reparo.
Afinal, quem é que não gosta de se ver apreciada?
Que mulher bonita é que não gosta de impressionar os transeuntes, criando um impacto brutal em seu redor?
E aquelas mulheres de fazerem parar o trânsito, que são um perigo na rua e à solta, deviam era virem parte delas para este Interior, mais desertificado, mais envelhecido e mais atento. Além do mais, também a circulação rodoviária é muito menos e assim, elas não o prejudicariam assim tanto. E sempre seria mais seguro, para elas e para o trânsito!
Também só se fosse assim, é que o país se voltaria a equilibrar em termos de fluxos e refluxos populacionais. E era vê-los, a quererem regressar. E era vê-los, a quererem-se fixar neste Interior, agora bem mais apetecível. E era assim, que finalmente veríamos estancar esta desertificação mais que preocupante e deveras prejudicial para a harmonização e desenvolvimento sustentado do país.
Para fechar, elas nas grandes urbes acabam por não ser devidamente maravilhadas, tal a encruzilhada da abundância – acumulando-se perigosamente às resmas e quase indiferentemente, aos montes.