CRISES
Dizia-se que o mal do país; com o agravamento da crise nacional, de ano para ano, vinha desde que o Benfica tinha sido a última vez campeão nacional (1993/1994).
Pois é, a partir daí, tem sido sempre a descer.
Para não dizer, a afundar a nau nacional em termos financeiros.
A derreter a nossa viabilidade económica, com a crise a deixar mazelas, em todos os bolsos.
Terá sido mera coincidência, ou de facto, consoante se ia agudizando a crise no Benfica, também o país, lhe ia seguindo paulatinamente as pisadas. Com insucessos sucessivos a abundarem, com desmotivações e pessimismos à mistura, com ilusões e enganos permanentes; mas... a perderem capacidade concretizadora, a desbaratarem património, a darem cabo do bom nome, a banalizarem funções e objectivos, e depois, claro... na tesura!
Com o passar dos anos, a angústia benfiquista foi crescendo, o desnorte foi quase duplamente completo, e até a própria esperança ia esmorecendo. Também o país ia sem vento para tanta popa, arremedando o Benfica e assumindo finalmente a crise instalada. E tentaram explicar e voltaram a enganar-nos; mas ela, tal qual as derrotas benfiquistas, também já era dolorosamente sentida.
Começava-se a dizer (a brincar, é claro), que só quando o Benfica voltasse a ser campeão, é que finalmente voltava a sentir aquela alegria e a motivação suficiente, para começar-mos a dar a volta à crise. Pois, só aí é que teríamos a tão apregoada e desejada retoma. E passava-se mesmo à explicação: pois se a rentabilidade do nosso trabalho, era assim... a modos... como que... muito aquém (e pelos vistos, continua a ser); isso seria, porque sendo a maior parte do país benfiquista e que andavam todos demasiado em baixo e suficientemente deprimidos e tristonhos, para fazerem algo a mais e melhor. Como tal, …
Até que finalmente, o SLB começa a recuperar e a empolgar-se e a redimir-se e a acreditar e zás:
O S. L. Benfica é campeão.
- “Campeões, campeões, campeões…”
O campeonato, como nunca antes acontecera, foi espectacularmente atípico. Parece mesmo, que todos os clubes estiveram em crise; e assim, com todo o mérito, o Benfica foi o justo campeão – também era o que já estava mais habituado a saber lidar com tais situações!
O momento à tanto ansiado, chegou.
A euforia, os festejos, a alegria foi apoteótica e durou, durou... bem noite dentro. Até às tantas. Até às quinhentas mesmo!
Quando surpresa das surpresas e pela plena calada da manhã daquela 2ª feira, de um maravilhoso rescaldo de tão apetecida, como de difícil e saborosa vitória; eis que o governo, diz-nos tão só, que a crise mais que real, é muito mais grave e que iremos, sofrer mais e durante muito mais tempo, a começar já hoje, com a aplicação de uma série de medidas, tão sérias como difíceis.
Como tal, a seguir à euforia transbordante, e com muitos ainda a dormir e outros, meio anestesiados dos exageros nocturnos; levaram à socapa, para não dizer: à falsa fé, com o aumento do IVA e necessariamente, com o poder de compra e a qualidade de vida a descer. Despertamos todos de repente – muito de repente, mesmo à bruta, pode-se dizer – acordados de um maravilhoso e extraordinário sonho, para caírem no grande pesadelo do nosso dia-a-dia.
Foi, de facto, de muito mau tom o que fizeram. Isso, não se faz! Acho mesmo, que aproveitaram a euforia reinante, gozando de alguma distracção e da letargia semi-geral, para a prossecução dos seus fins. Ao menos, podiam ter adiado uma semana, para que todos os benfiquistas pudessem ter essa semana de gozo e de deslumbramento.
E de poderem acreditar naquele seu velho sonho, de que o país também começaria a ultrapassar a crise, quando o Benfica finalmente fosse campeão. E zás, destroçaram assim, num ápice, esse sonho de tantos e com tantos anos de espera. Isso, de facto, não se faz!
Mas não – tem que ser já hoje, quanto mais depressa melhor. É já pela manhã, que as notícias e novas medidas têm que ser anunciadas. Assim, já todos vão ouvir as notícias do dia, bem misturadinhas – as más, com as boas, todas quentes e novas.
Não há direito! E pronto, lá se deu cabo do possível astral positivo, logo à nascença. Não se faz, de facto!
Volvidos mais uns tempinhos e lá foi, o tal ministro da tal medida “à vida”; ou melhor, à sua melhor vida, pois aquela não estava nada fácil. Mas, pelo menos pareceu ser mais coerente e com alguns princípios. Depois, é logo substituído por outro ainda mais competente; ou talvez, mais competentemente subserviente. E o povo, é que leva, como sempre, com o revés das desgraças e com as favas, ainda por cima.
Coitados de nós!
E sem a menor perda de tempo – no timing certo, mais uma vez – “inteligentemente”, distraem-nos com possíveis candidaturas presidenciais. E pronto, é o que temos! E temos isto hoje, mas também o que é que poderemos esperar para amanhã? Quais serão os próximos fair-divers? Porventura, têm que os criar! É que agora, também ainda só vamos na pré-época futebolística, sem termos ainda derrotas e vitórias, para nos entreter a atenção e nos distrair das “desgovernices” mais do que constantes.
Aparentemente, a crise do Benfica até está a ir no melhor caminho. E a outra? A do nosso país? Para quando a sua reviravolta? Quando é que nos podemos orgulhar da sua debelação?
É agora. Tem que ser. Força pessoal!